A falta de chuvas ameaça o sistema elétrico brasileiro, que já apresenta reservatórios com níveis próximos dos registrados em 2001, quando houve racionamento. Mas a situação atual não é a mesma da registrada naquele ano, quando o risco do apagão obrigou o governo a lançar uma campanha de redução de consumo e mudanças de hábito da população, além de impor limites para os grandes consumidores industriais, os chamados eletrointensivos. Atualmente, os reservatórios da região Sudeste/Centro-Oeste, responsáveis por 70% da energia gerada no país, estão na marca de 34,68%. Em março de 2001, os níveis estavam em 34,53%, volume apenas 0,15 ponto percentual menor do que o registrado na última quinta-feira. Apesar dos cenários serem semelhantes, em 2001 os investimentos em térmicas ainda não haviam sido realizados. Há 13 anos, a situação era outra, conforme aponta o coordenador-geral do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde de Castro. Nos últimos dez anos, depois de um hiato de aportes no setor, foram investidos cerca de R$ 200 bilhões no sistema energético, aumentando sua confiabilidade.
Apenas 20%
Embora os investimentos tenham sido importantes, o presidente da CMU Comercializadora de Energia, Walter Fróes, ressalta que as térmicas possuem autonomia para segurar apenas 20% da energia consumida no país. Portanto, são insuficientes para afastar por completo o risco do apagão. “A situação é muito ruim. Se não chover nos próximos meses, um racionamento é provável”, afirma o presidente da CMU. O diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (Ilumina), Roberto D’araújo, concorda. Ele lembra que março e abril são os últimos meses do período chuvoso que vai de outubro a abril. Ele ressalta que também é preciso chover no lugar certo. “É preciso que caia nas bacias dos rios Grande e Paranaíba, que formam o Paraná. Grande parte dos reservatórios está nesses rios, inclusive Itaipu”, afirma.
Setor pede maior participação em decisões
Um grupo de 15 associações do setor energético reivindica maior participação nas decisões do segmento e pede para fazer parte do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), que acompanha e avalia o cenário de energia do país. O pedido foi feito por meio de carta enviada ao Ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, na última quinta-feira. Participam do grupo representantes dos segmentos de geração, comercialização e transmissão, além de grandes consumidores. Segundo as entidades do setor, o objetivo da carta é aumentar o diálogo com o governo sobre a real situação do fornecimento de energia do país, marcado, nos últimos meses, pela seca e pelos baixos níveis dos reservatórios. “Nesse cenário de escassez de recursos hidráulicos e de recursos térmicos com capacidade limitada, a situação merece cautela”, diz o texto da carta, corroborado pelo presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape), Mário Menel. De acordo com ele, a situação é delicada e merece análise aprofundada. “Queremos construir uma solução conjunta, porque o racionamento não interessa a ninguém”, afirma. Na avaliação do governo, apesar de apontar problemas, a carta não possui um tom alarmista. O ministro Edison Lobão, segundo sua assessoria, deverá analisar as propostas apresentadas. Na quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff se reuniu com Lobão e com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, entre outros integrantes do governo, para discutir a crise no setor.