Energia, essencial na vida doméstica e também para os setores produtivos, é entregue pela distribuidora mas oscila e inviabiliza produção.
O empresário André Luiz Batista Pereira, dono de uma empresa que fabrica peças para tratores, há nove anos, explica que sua empresa, há algum tempo, contava com 28 funcionários, mas teve que dispensar oito. “Genuinamente goiana” a fábrica foi montada no Setor Santa Genoveva. Conforme André, um local destinado à indústria, pelo Plano Diretor da Capital.
André lamenta não poder expandir, hoje, os negócios e afirma que exporta, juntamente com as peças, o nome do Estado. “Fabricamos 1.200 peças, em média, que são entregues para todo o Brasil, e que chegaram a ser exportadas para outros países. Existem peças que só são fabricadas aqui, em todo Brasil”, explica. Ele ainda comenta que está na contramão da histórica do ramo, já que antigamente era o Centro-Oeste que importava do Sul do País e agora está acontecendo o inverso.
De acordo com o empresário, quando a fábrica começou a funcionar havia poucos equipamentos e o funcionamento era mais adequado, porém com a demanda houve expansão. Atualmente ele possui 60 máquinas, algumas com sistemas informatizados, mas que funcionam fora do padrão adequado. “Trabalhamos, em média, com cerca de 30% do maquinário, o restante não pode ser ligado e mesmo assim, as máquinas são desligadas e reiniciadas cerca de 25 vezes, somente na parte da tarde”, lastima.
A empresa obtém sua energia em um padrão trifásico comercial, o qual oferece 380V, porém, conforme André, em determinados momentos, a energia que chega à empresa é de apenas 320V. No momento em que a reportagem do Diário da Manhã esteve no local a tensão de entrada em um dos equipamentos do local variava entre 335V e 341V.
Para o empresário os problemas são muitos. Há a dificuldade em conseguir manutenção para os equipamentos que ficam comprometidos por causa da eletricidade, por falta de técnicos qualificados e que precisam vir de outros Estados, fazendo-os ficar parados por longo período; as empresas fabricantes dos mesmos, não dão garantia quando fica comprovado que o problema foi causado por má qualidade energética; quando há desligamento da máquina por causa da oscilação a peça que está sendo fabricada pode ficar defeituosa e ser descartada; as ferramentas utilizadas pela máquina também podem quebrar nesses momentos e muitas não tem reposição no mercado local, a última havia sido importada de Israel e quebrou no primeiro uso, chegando a custar entre R$ 1 mil e R$ 1.500 mil.
Conforme os manuais de instruções dos equipamentos a oscilação suportada fica em torno de 5%, e não mais que isso. André explica que o transformador da região deveria ter sido trocado por não suportar a demanda – que aumentou há cerca de cinco anos – e ainda que não obteve nenhuma proposta de melhoria por parte da Companhia. “Estamos comprando um quilo de arroz, mas estamos levando 800 gramas”, compara o empresário ao comentar estar se sentindo desamparado no sentido de infra-estrutura para poder crescer e gerar mais empregos, impostos e divisas.
A reportagem do DM entrou em contato com a assessoria da Celg D, mas não obteve resposta sobre o caso do transformador na Região do Santa Genoveva.
Realidade
De acordo com Luis Fernando Pagotti, professor de Engenharia Elétrica, do Campus de Goiânia, do Instituto Federal de Goiás, o problema é evidente e pode ser consultado até mesmo nas contas de energia que a empresa envia ao consumidor. Os indicativos de qualidade estão previstos pela Aneel e são o Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (DEC) e o Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (FEC).
Esses índices são medidos e estão disponíveis também na página da internet da Aneel. Correspondente ao ano de 2013, em cidades como Trindade, por exemplo, o DEC apurado é de 40,65, quando o limite é de 19,00. Na mesma cidade o FEC é de 18,35, quando o limite deve ser 13,00. Em Barro Alto os valores para o DEC observado e o limite são respectivamente 136,63 e 30,00; já para o FEC os números são 32,44 e 23,00.
Nos três conjuntos observados em Goiânia, Leste S1, S2 e S3 os números do DEC apurado, respectivamente são 16,69, 10,94, 17,60 tendo como limites 10,00. Já os números do FEC são 13,41, 9,59, 13,06 e limites 11,00. Para o professor de Engenharia Elétrica, os números de Goiânia, em comparação com outras regiões desenvolvidas e que possuem companhias financeiramente bem sanadas, não são tão adversos e que a equipe técnica da empresa é de excelente qualidade. De acordo com o docente o que falta são investimentos prioritários nas redes de distribuição e na construção de subestações de energia.
Conforme Luis Fernando, a grande questão foi o aumento expressivo da demanda de consumo elétrico, principalmente nas residências nos últimos 10 anos. Também ressalta que esse é um processo natural do crescimento demográfico e verticalização. “A infraestrutura foi projetada para atender uma casa em um terreno. Hoje, nesse mesmo terreno, há 70 residências empilhadas uma em cima da outra”, comenta sobre a saturação em que se encontra o atual sistema de distribuição.
Ainda de acordo com o professor, atualmente pode ser observado três horários de pico, em Goiânia, e não somente o constatado, há 10 anos, que variava entre 18h e 21h. Ocorre um, pela manhã, por volta das 10h, outro, na parte da tarde, entre 15h e 16h, e durante o noturno, no horário anteriormente visto. Conforme a observação de Luiz, em Goiânia o pico vespertino supera o consumo do ocorrido no início da noite. “Nesse horário é possível observar que a sobrecarga no sistema, gera mais desligamentos no fornecimento”, informa.
A Aneel regula a qualidade da energia fornecida em adequada, precária e crítica. No primeiro nível, conforme o professor, os equipamentos funcionam adequadamente. No segundo há falhas na operação, que podem diminuir a vida útil do mesmo. Já no terceiro os equipamentos podem vir a sofrer danos.
De acordo com informações obtidas com a assessoria da Celg D, as residências no Estado de Goiás recebem a energia elétrica de 220 volts e que a oscilação permitida, pela agência reguladora, deve estar em cerca de 5%. Já os clientes industriais, com carga instalada acima de 75 KW, são consumidores do grupo A e recebem a energia em alta tensão que pode ser em 13,8 KV, 34,5 KV, 69 KV, 138 KV e 230 KV.
Quanto à questão da oscilação a assessoria informou que os casos acontecem em situações de redes que estão trabalhando em sobrecarga, podendo ocorrer uma queda de tensão em níveis maiores que o permitido, fato que geraria esta percepção pelo consumidor. Ainda lembra que o problema pode estar na instalação interna das unidades consumidoras.
Atuando no setor de distribuição de energia elétrica, autorizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Annel), a empresa atende 237 municípios do Estado. Após o processo de federalização a expectativa é que a companhia possa ser reestruturada, tanto financeiramente quanto em relação às infraestruturas usadas. Com o governo possuindo 49% da Celg D e um empréstimo, da Caixa Econômica Federal, no valor de R$ 1,9 bilhão a pretensão, conforme divulgado na mídia, a meta é pagar as dívidas e investir na melhoria do produto disponibilizado.